O uso de esteroides anabolizantes androgênicos (EAA) está associado a uma série de consequências cardiovasculares adversas, conforme evidenciado pela literatura médica atual.
Primeiramente, o uso de EAA em doses supra-fisiológicas está fortemente associado a remodelação cardíaca global, incluindo aumento das dimensões do ventrículo esquerdo e do átrio esquerdo, hipertrofia ventricular esquerda e redução da função sistólica subclínica.[1] Estudos demonstraram que usuários de EAA apresentam uma massa ventricular esquerda aumentada e uma fração de ejeção reduzida em comparação com não usuários.[1-3] Além disso, a função diastólica também é comprometida, com redução na velocidade de relaxamento precoce e aumento na rigidez atrial.[4]
A toxicidade cardiovascular dos EAA também se manifesta na forma de cardiomiopatia biventricular severa, tanto em usuários atuais quanto em ex-usuários de longo prazo. Isso inclui uma fração de ejeção ventricular esquerda significativamente reduzida e uma deformação longitudinal global do ventrículo direito prejudicada.[3] A duração e a quantidade acumulada de uso de EAA estão correlacionadas com a gravidade da disfunção miocárdica.[3]
Além das alterações estruturais e funcionais do miocárdio, o uso de EAA está associado a um aumento do risco de aterosclerose coronariana. Usuários de EAA demonstram um volume de placa coronariana significativamente maior em comparação com não usuários, e a dose acumulada ao longo da vida de EAA está fortemente associada à carga aterosclerótica.[2] Isso sugere um risco aumentado de eventos cardiovasculares graves, como infarto do miocárdio.
Outro aspecto importante é a redução da elasticidade arterial e a função vascular prejudicada em usuários de EAA. Estudos mostram que usuários de EAA apresentam maior espessura da íntima-média carotídea, maior velocidade de onda de pulso e menor dilatação mediada pelo fluxo, indicando uma rigidez arterial aumentada e uma função endotelial comprometida.[5-6] Essas alterações vasculares podem contribuir para eventos cardiovasculares agudos, como acidentes vasculares cerebrais.
Além disso, o uso de EAA está associado a um perfil lipídico adverso, com aumento do colesterol total e das lipoproteínas de baixa densidade (LDL), e redução das lipoproteínas de alta densidade (HDL), o que é um fator de risco bem reconhecido para doenças coronarianas.[7]
Em resumo, o uso de esteroides anabolizantes androgênicos está associado a uma série de consequências cardiovasculares adversas, incluindo remodelação cardíaca, disfunção miocárdica, aumento do risco de aterosclerose coronariana, rigidez arterial aumentada e um perfil lipídico adverso. Essas alterações podem aumentar significativamente o risco de eventos cardiovasculares graves em usuários de EAA.ShareHelpfulNot Helpful
Referências:
1. Impaired Cardiac Structure and Systolic Function in Athletes Using Supra-Physiological Doses of Anabolic Androgenic Steroids. Hammoud S, van den Bemt BJF, Jaber A, Kurdi M. Journal of Science and Medicine in Sport. 2023;26(10):514-521. doi:10.1016/j.jsams.2023.08.180.
2. Cardiovascular Toxicity of Illicit Anabolic-Androgenic Steroid Use. Baggish AL, Weiner RB, Kanayama G, et al. Circulation. 2017;135(21):1991-2002. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.116.026945.
3. Severe Biventricular Cardiomyopathy in Both Current and Former Long-Term Users of Anabolic-Androgenic Steroids. Abdullah R, Bjørnebekk A, Hauger LE, et al. European Journal of Preventive Cardiology. 2024;31(5):599-608. doi:10.1093/eurjpc/zwad362.
4. Anabolic Steroids Use Is Associated With Impairments in Atrial and Ventricular Cardiac Structure and Performance in Athletes. Grandperrin A, Schuster I, Moronval P, et al. Medicine and Science in Sports and Exercise. 2022;54(5):780-788. doi:10.1249/MSS.0000000000002852.Details
5. Reduced Arterial Elasticity After Anabolic-Androgenic Steroid Use in Young Adult Males and Mice. Melsom HS, Heiestad CM, Eftestøl E, et al. Scientific Reports. 2022;12(1):9707. doi:10.1038/s41598-022-14065-5.
6. Impaired Vascular Function Among Young Users of Anabolic-Androgenic Steroids. Tungesvik HM, Bjørnebekk A, Hisdal J. Scientific Reports. 2024;14(1):19201. doi:10.1038/s41598-024-70110-5.
7. National Athletic Trainers’ Association Position Statement: Anabolic-Androgenic Steroids. Kersey RD, Elliot DL, Goldberg L, et al. Journal of Athletic Training. 2012 Sep-Oct;47(5):567-88. doi:10.4085/1062-6050-47.5.08.